Monday, December 19, 2005

KRTK


"Isso quem falou não fui eu, foram vocês, o povinho da crítica". O Sr Rodrigues pode estar errado na citação mas está certo de que foi da Alessandra esse comentário em uma tarde no Instituto de Psicologia (IP). Com isso ela tava tachando, e batizando todo um grupo de amigos, um subgrupo de uma turma inicial de 80 alunos e do qual ela mesma fazia parte.

Era mais ou menos assim: um grupo de um pouco mais de uma dúzia de alunos, com muitas diferenças entre si, mas uma semelhança, característica pela qual Alessandra batizou o grupo, formado, além dela e do Sr Rodrigues, por Baby, Vanessa, Nadia, Marcelo Viagem, Marcelinho, Gustavo, André, Daniel, Letícia, Lydia (e o Junior namorado dela que mesmo sem ser da faculdade, colaborava nos comentários), Paula, Robertona, Maria Fernanda e Valeria ¿ esta última não muito de freqüentar os eventos mas com comentários mais do que ácidos na faculdade. Nada escapava dos comentários deste grupo, desde temas óbvios para nós como psicologia, psicanálise ás coisas mais bagaceiras da televisão. Psicólogos lidam, sobretudo, ¿ não importa a teoria ou o campo de atuação - com o comportamento humano. E o que era discutido pelo Povo da Crítica (que ganhou uma abreviação posterior para KRTK) não deixa de ser fruto de tal comportamento.

Algo que me agradava, já que existem diferenças, era a diversidade de idéias no grupo, indo da esquerda à direita, passando pela ausência de posicionamento político. O espectro poderia ir também de uma postura mais conservadora até a mais libertária. De fãs ardorosos de Freud e Lacan a Humanistas existenciais. De clínicos a sociais. Heteros e homossexuais. Negros e brancos. Homens e mulheres.

Por uns tempos chegou a circular um jornal próprio. No final de 1998 se a memória do senhor Rodrigues não falha. Nele alguns pseudônimos (ou seriam heterônimos?) escreviam alguns artigos, desde o editorial da Vovó Maphalda (que da personagem do Valentnio Guzzo no Bozo, só tinha o nome, com esse "ph" afetado) passando pelos horóscopos de Norah Yonneidh, a coluna social de Ava Gina Gardner, a análise psicanalítica de Luís Antônio Pacheco, os conselhos malditos e pérfidos para adolescentes de Judy até os comentários enfadonhos e narcisistas de Jane Du Boque, responsável pela coluna "Na Boca do Povo". Era um jornal restrito ao grupo, feito por pura diversão e resultado do esforço do Gustavo em diagramar e imprimir o bendito jornal, que estava mais para um fanzine metido a besta. Parou de circular em 2000.

As atividades deste grupo não se restringiam a isso. Havia também o troféu "Melhores do Ano" no qual, entre nós mesmos, fazíamos uma "premiação" para os que se destacaram em diversas categorias ( o que era mais turista na aula, o mais "Caxias", o mais chato, o mais mal vestido e por aí vai). Claro que muitos dos contemplados sequer sabiam da existência desse evento, enquanto outros eram membros da própria KRTK.

Com o tempo, os períodos avançando, os estágios, os estresses que ocorrem nos grupos, as pessoas fazendo matérias diferentes, as atividades do grupo se fragmentaram, embora até hoje exista contato uns com os outros. No caso do Sr Rodrigues mais esporádico, já que ele está numa espécie de exílio voluntário com o Povo. Não por insatisfação, pelo contrário, mas ele tem coisas a resolver com ele mesmo antes de partir para um encontro com a KRTK mais uma vez. Um grupo com o qual ele se identifica muito e, mesmo com alguns estresses ocorridos (nenhum grupo é imune a isso, ainda mais quando esse é extremamente crítico), tem muitas saudades, mesmo sabendo que agora estão em etapas diferentes de suas vidas. O Senhor Rodrigues curte um saudosismo, mas ele detesta querer reviver as coisas exatamente como eram, pois ele tem uma certa síndrome de Parmênides, na qual nada pode ser repetido tal como foi antes.

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