Sunday, August 02, 2009

Um rio para mim

Hoje você me chega com um ar sonso, ou mesmo inocente para dizer-me que fez algo que nunca fizeste antes. Tá, foi só dessa vez, ou só uma vez por ano. Precisamos de ritos e você também não foge bem disso. Bem diferente do outro que fez isso porque estava simplesmente a fim e você achou ruim.

De repente me pergunto: é a mudança de lugar? Todo mundo faz e de repente o "todo-mundo", essa espécie de demônio disfarçado de Deus para encobrir os nossos demônios internos dão a desculpa que tanto queremos. Comigo também não é diferente, apesar de que um dia me disseram - mais de uma pessoa até- que eu não me encaixava em nenhum grupo específico. Ou ainda, que eu não tinha nenhuma marca. Nessa hora me lembro do conto do Erly que diz que trazer o nome do pai é uma marca maior do que a tatuagem. Mas não é no meu pai que quero pensar agora.

Noite dessas, em meio a um sexo fugaz, vi as luzes da cidade. Me senti sozinho e ao mesmo tempo, bem. Também nunca fui egoísta a esse ponto, mas dessa vez fui e sem o auxílio de todo mundo. E depois do que me disse a minha vontade era de andar pela cidade a noite, tal como fizemos da última vez em que te vi. Só que dessa vez queria me lançar sozinho só olhando as luzes do prédio em meio a escuridão, não como olhos que me espionam, mas companhias mudas madrugada adentro.

Se bem que se lançar assim é tarefa perigosa. Uma vez disse para a analista que boiar me aquietava a alma e que sonhar com o mar bravio era algo que tinha a ver com a mãe porque li isso não sei onde. Associações baratas que não valem a experiência simples do último outono. Nunca tinha nadado em rio, mas "todo-mundo" me encorajou e me lancei na correnteza. A água é mais pesada e o monte de pedras incomoda. No entanto me deixam mais alerta para não pisar no limo ou machucar o corpo. Até para pisar no chão sempre preferi fazer na ponta dos pés. Desde criança. E assim fui e voltei sem nenhum arranhão. E hoje era essa a minha preocupação. Independente de "todo-mundo" ou do "isso aqui é normal" queria que você se lançasse como eu no rio: encarando a água gelada e as pedras e tentar sair ileso e reconfortado sabendo que aquele prazer, no fim das contas, valeu à pena.