Monday, December 19, 2005

Odilon

Uma mensagem narcisista

Por onde você anda? Estou com saudades de ti. Tudo bem que fui eu quem mandou você sair de cena e tirar umas férias. A vida pareceu um grande rolo compressor- na realidade o rolo compressor é você mesmo- e por puro cansaço resolvi tirar você de circulação.

Lembro-me da primeira vez que ouvi teu nome. Tinha quatro anos no primeiro dia de aula da sua vida. Não era mais o nome de seu pai, embora fosse o mesmo. A partir dali o peso da herança paterna - este sempre carregado de responsabilidades - iria pairar sobre ti. Não para ser exatamente igual a ele, mas para poder ir mais longe do que ele foi.

E pensar que esse nome existe na família possivelmente por conta de um primo de sua avó. E desconfio seriamente que tinha paixão ali.

Da última vez que nos vimos você me falou de uma longa estrada em linha reta. Esqueceu-se de que a vida está mais para o clichê da montanha-russa de altos e baixos. Quer dizer, montanha-russa não seria tanto, pois sei que sempre detestou correr riscos, embora no fundo gostasse de fazer isso.

Esta mensagem é apenas para dizer que estou com saudades de ti. Preciso do seu brilho, do seu charme, da sua inteligência e do teu doce sorriso cínico. Preciso da sua insegurança, da sua hesitação, da sua ansiedade que o faz falar na velocidade da luz. Da sua timidez e do sarcasmo sonso. Daquele cara que todos pensam estar concordando com tudo, mas está quieto com uma visão ferina das coisas. Do cara careta e intolerante que a vida joga coisas na cara e daí é obrigado a rever suas visões sobre todas as coisas que o cerca. Quero fazer de ti uma pessoa melhor, ou ao menos, uma pessoa menos ruim já que ninguém é perfeito- e no fundo você acha que o é. E quando nos encontrarmos traga todos os seus amigos dos quais tenho grande saudade.

Negro de Corpo e Alma


Foi o nome da exposição a que eu fui há 5 anos. Fazia parte da mostra do Descobrimento e era específica sobre a questão negra no Brasil. Junto com os clichês habituais do carnaval e do futebol e do carnaval estavam ali instrumentos de tortura dos escravos e dicas do Barão de Nova Friburgo de como ser mais "humano" com os cativos reduzindo-lhes o número de chibatadas. Sem falar da mocinha branca ensinando a criança negra a ler e do lado da foto a palmatória usada em caso de erro. Entendi o porquê dos judeus preservarem Auschwitz.

Em plena era do genoma esse título parece impróprio. A genética já postula que raça não existe. Pode haver mais semelhanças entre duas pessoas de "raças" diferentes do que duas pessoas da mesma raça. Genes...e o corpo, e a alma? Quando ouço que meu cabelo é ¿ruim¿ o discurso genético vai pro espaço.

Quando os professores desconfiavam da minha capacidade também. Na velha na loja que vai direto em mim achando que sou o empregado e não um cliente. No infeliz que disse que eu parecia um segurança só porque estava bem vestido na minha formatura. Nos meus lábios, no meu nariz, na minha família... na minha pele. Tudo isso me diz que sim, sou negro de corpo e alma.

Não se trata de um discurso vitimizador. Nem do discurso do "orgulho" -- que foi necessário talvez para mostrar-nos após anos de repressão que sim que cabelo ruim foi um postulado, uma convenção criada por outra raça para dominar-nos. Creio que a palavra consciência, de si e do outro em mundo de tanta tensão por tantas diferenças - paradoxalmente numa globalização que torna igual o sanduíche que comemos e as notícias que assistimos na televisão. Sou 100% nada.

E ainda vão usar o argumento "mas os maiores racistas são os negros". Duplamente racista. Primeiro porque ele pressupõe que existem duas sociedades, a dos negros e a dos brancos e sendo que os negros, separadamente inventaram o racismo para si mesmos. Esquecem de que o racismo enquanto discurso engloba todos... e todos estão na mesma sociedade, civilização o que quer que chame. Ainda que com discrepância de poder absurda. E isso parece uma espécie de "mantra" que alivia o racista: eu posso ser racista porque o negro também o é.

Vivo num país com sério problema de identidade. Muitos adoram falar sobre a sua ascendência européia. De preferência não-portuguesa, justamente a cultura européia mais influente nesta nação, mesmo para aqueles que não descendem dos lusitanos. A pessoa tem um sobrenome quilométrico - they all have big names, disse a mulher na Imigração em Washington DC- com nomes portugueses, mas se tiver um sobrenome mais impronunciável e "diferente" é esse que ela faz questão de usar e de se orgulhar.

Eu, como o senhor Rodrigues, tenho um sobrenome de origem ibérica. Mas isso pouco interessa... nem mesmo a ponta oblíqua dos meus olhos que, como bom filho de nordestino, traça a ascendência indígena. O que importa é que sou negro, de corpo e alma (pra mim duas coisas indissociáveis) e não precisei ser "estiloso", ouvir hip-hop ou reggae, freqüentar a Lapa, ser praticante de umbanda/ candomblé . Quando o policial me parar na próxima blitz ou quando eu sentir, de olhos fechados, os meus grossos lábios beijando a quem amo terei a maior terei a maior prova de qualquer consciência.

Marte em Leão na 12ªcasa


O Sr Rodrigues no divã:

- Do que você tem falta?
- Não sei...
- Você sente falta de uma coisa?
- Não

(pausa)

-Acho que não...quer dizer...
- Sim...
- Eu acho que não sinto falta de nada, mas sinto falta de algo mas não sei dizer que algo é esse. Mas não sinto falta de nada.
- Não seria falta da falta?
- Isso, matou a charada! Sinto falta de ter falta

Luises


Três reis em reinos sombrios
ou
Metáfora para três paixões homônimas


Luís I

Esse era um jovem imperador adolescente muito tímido e quieto escondido por trás de grossas lentes dos seus óculos. Era talvez a única coisa realmente feia nele. Os hormônios naquela fase já lhe davam pêlos e uma aparência adulta para governar aquele reino. Por medo o jovem imperador desistiu, abriu mão de seus poderes em nome de uma ordem teocrática. Entregou-se de vez aos ensinamentos dos sacerdotes, não porque sofrera lavagem cerebral ou qualquer outra forma de manipulação, mas por um certo cinismo em admitir para si mesmo que estava no caminho certo e assim se livrar de vez do maior de seus medos: o pecado.

No meio a tanta loucura ele tinha uma peculiaridade: jamais condenou algum súdito. Nem mesmos os maledicentes.

Hoje, parece estar enfurnado em alguma biblioteca no lugar mais remoto de seu reino tomado por uma neurose que o faz contar todas as páginas dos livros de uma coleção interminável. Pelo menos ele não fala mais de religião. Só desaprova as mulheres de saia curta em seus domínios. No princípio, o senhor Rodrigues achou que era medo do tesão, hoje é sabido que ele teme ficar igual a uma dessas moças que ele tanto repreende.

Luis II

A cara feia e desgrenhada resumia-se em silêncios escutando alguma música que o levasse a um país distante, bem longe de seu reino. Alimentava a esperança de que algum dia um ET o levasse para uma galáxia distante e assim ele experimentaria toda a loucura que ele gostaria de experimentar e toda a alucinação possível e imaginada.

A razão para fugir de seu reino silencioso não era muito clara. O pai doente há muito tempo abdicara do trono em seu favor. Ele só se esquecera que o filho era tão omisso quanto ele. Já a velha rainha, que sempre ousou ter aquele reino nas suas mãos, mas não podia- a tradição impedia as mulheres de reinar-, preferiu agir nos bastidores. E tal estratégia deu certo por muito tempo, pois o filho era incapaz de tomar qualquer decisão que a desagradasse.

Até que um certo dia o tal alienígena chegou. Se apresentou ao rei, que ficou muito feliz e quis conhecer toda aquela terra, já que o ser nunca saíra de seu próprio planeta. Assim o rei fez: decidiu seguir seu sonho e apresentou o planeta para aquele simpático visitante.

Todavia, essa visita era feito em passos de tartaruga a ponto de deixar o ET confuso sobre o tempo naquele novo planeta. Sem falar que a velha rainha desconfiava de algo, mas o filho rei escondia tudo, pois sabia que não ficava bem para um governante andar com alguém de fora, ainda mais de outro planeta. Poderia ser acusado de traição pelos seus súditos, que na realidade sabiam de tudo e pouco se importavam.

Um dia a rainha mãe soube de tudo e fez um drama na sala secreta do palácio. Ela não queria chamar a atenção. Suplicou ao filho em desespero para que aquelas andanças com o forasteiro terminasse imediatamente. Claro que essa súplica foi feita com uma grande soberba, pois ela não queria perder a pose e o poder.

Então, no mesmo dia, o ET foi se encontrar com um confuso e desligado rei. Fez-lhe uma proposta tentadora: "venha comigo conhecer os outros lugares do universo, até aqueles que eu ainda não conheci. Não é isso que queremos?". Mas o rei hesitou muito e até tentou mandar seus guardas trancá-lo em algum calabouço para que ele não fugisse de lá. O rei, perdido em velhas idéias e com uma tecnologia tão capenga quando sua aparência, não se deu conta das novidades do alienígena, que usou de um dispositivo desconhecido e sumiu em sua nave, deixando os lacaios do rei atônitos. Desde então o alienígena não foi mais visto naquele lugar. Parece que ele anda vivendo novas experiências em um meteoro verde bem longe dali. E ao rei, restou a ele se fechar em seu próprio calabouço numa greve de fome não declarada, enquanto a família real permanece muda e apática, como era tudo antes da visita.

Luis III

Esse vivia num reinado de sombras. Não era um rei triste, tinha muita firmeza nas coisas que fazia, mas quando tinha que voltar para si mesmo o que ele encontrava era uma incerteza, uma incapacidade de dizer quem ele realmente era. Mas fazia tudo conforme as regras daquele reino e tinha certo reconhecimento de seus súditos. Tudo corria bem até o dia da tragédia em sua vida.

A rainha, sua esposa, havia se suicidado. Na carta de despedida ela se dizia insatisfeita e que iria procurar o seu próprio caminho e que ele deveria fazer o mesmo. O rei leu a carta de forma atenta, mas passou meses recusando a idéia de que aquele corpo enterrado no mausoléu da família era de sua rainha.

Alguns meses depois ele partiu em uma viagem para um mundo mais iluminado. Ao chegar nesse mundo sentiu que o sol o abençoava, mesmo que muitas vezes queimasse a sua frágil pele. O cheiro do mar trazido pelas brisas e os pés descalços nas pedras o fez se sentir novo e com novas esperanças.

E ali ele conheceu novas pessoas que trouxeram coisas novas a ele também. Parece que também ocorreu uma nova paixão por alguém daquele reino, mas que não pôde ser concretizada pois essa paixão recusava as sombras e o rei, um soberano responsável, não podia deixar seu trono vago.

Ao voltar para o seu país de origem ele viu todas as coisas sombrias exatamente no mesmo lugar que estavam. Só que algo o chamou a atenção enquanto cavalgava no meio da estrada que dava acesso ao seu castelo. Ele percebeu a sombra de uma árvore feia e velha sem folhas projetada no chão castigado daquela floresta. Pensou consigo mesmo "para haver sombra, deve vir luz de algum lugar, para bater nesta árvore e assim formar a imagem que vejo no chão". Assim, pela primeira vez em muito tempo voltou os olhos para o céu sombrio e percebeu que a luz do sol entrava timidamente por entre nuvens carregadas. E lembrou-se de que aquela luz era a mesma do país que visitara. Decidiu então largar o cavalo e se colocar sob aquela luz e, ao fechar os olhos, estava de novo no mesmo lugar onde foi feliz. E ao se sentir vivo percebeu que a felicidade não era um buraco de luz abrindo o céu, mas o que essa luz poderia abrir em seu coração.

KRTK


"Isso quem falou não fui eu, foram vocês, o povinho da crítica". O Sr Rodrigues pode estar errado na citação mas está certo de que foi da Alessandra esse comentário em uma tarde no Instituto de Psicologia (IP). Com isso ela tava tachando, e batizando todo um grupo de amigos, um subgrupo de uma turma inicial de 80 alunos e do qual ela mesma fazia parte.

Era mais ou menos assim: um grupo de um pouco mais de uma dúzia de alunos, com muitas diferenças entre si, mas uma semelhança, característica pela qual Alessandra batizou o grupo, formado, além dela e do Sr Rodrigues, por Baby, Vanessa, Nadia, Marcelo Viagem, Marcelinho, Gustavo, André, Daniel, Letícia, Lydia (e o Junior namorado dela que mesmo sem ser da faculdade, colaborava nos comentários), Paula, Robertona, Maria Fernanda e Valeria ¿ esta última não muito de freqüentar os eventos mas com comentários mais do que ácidos na faculdade. Nada escapava dos comentários deste grupo, desde temas óbvios para nós como psicologia, psicanálise ás coisas mais bagaceiras da televisão. Psicólogos lidam, sobretudo, ¿ não importa a teoria ou o campo de atuação - com o comportamento humano. E o que era discutido pelo Povo da Crítica (que ganhou uma abreviação posterior para KRTK) não deixa de ser fruto de tal comportamento.

Algo que me agradava, já que existem diferenças, era a diversidade de idéias no grupo, indo da esquerda à direita, passando pela ausência de posicionamento político. O espectro poderia ir também de uma postura mais conservadora até a mais libertária. De fãs ardorosos de Freud e Lacan a Humanistas existenciais. De clínicos a sociais. Heteros e homossexuais. Negros e brancos. Homens e mulheres.

Por uns tempos chegou a circular um jornal próprio. No final de 1998 se a memória do senhor Rodrigues não falha. Nele alguns pseudônimos (ou seriam heterônimos?) escreviam alguns artigos, desde o editorial da Vovó Maphalda (que da personagem do Valentnio Guzzo no Bozo, só tinha o nome, com esse "ph" afetado) passando pelos horóscopos de Norah Yonneidh, a coluna social de Ava Gina Gardner, a análise psicanalítica de Luís Antônio Pacheco, os conselhos malditos e pérfidos para adolescentes de Judy até os comentários enfadonhos e narcisistas de Jane Du Boque, responsável pela coluna "Na Boca do Povo". Era um jornal restrito ao grupo, feito por pura diversão e resultado do esforço do Gustavo em diagramar e imprimir o bendito jornal, que estava mais para um fanzine metido a besta. Parou de circular em 2000.

As atividades deste grupo não se restringiam a isso. Havia também o troféu "Melhores do Ano" no qual, entre nós mesmos, fazíamos uma "premiação" para os que se destacaram em diversas categorias ( o que era mais turista na aula, o mais "Caxias", o mais chato, o mais mal vestido e por aí vai). Claro que muitos dos contemplados sequer sabiam da existência desse evento, enquanto outros eram membros da própria KRTK.

Com o tempo, os períodos avançando, os estágios, os estresses que ocorrem nos grupos, as pessoas fazendo matérias diferentes, as atividades do grupo se fragmentaram, embora até hoje exista contato uns com os outros. No caso do Sr Rodrigues mais esporádico, já que ele está numa espécie de exílio voluntário com o Povo. Não por insatisfação, pelo contrário, mas ele tem coisas a resolver com ele mesmo antes de partir para um encontro com a KRTK mais uma vez. Um grupo com o qual ele se identifica muito e, mesmo com alguns estresses ocorridos (nenhum grupo é imune a isso, ainda mais quando esse é extremamente crítico), tem muitas saudades, mesmo sabendo que agora estão em etapas diferentes de suas vidas. O Senhor Rodrigues curte um saudosismo, mas ele detesta querer reviver as coisas exatamente como eram, pois ele tem uma certa síndrome de Parmênides, na qual nada pode ser repetido tal como foi antes.

Junior, o meu Jekyll


Por muito tempo pensei que o Junior fosse o meu Mr Hyde. Afinal é o nome mais íntimo usado pelos meus familiares e pela minoria dos meus amigos. Junior seria a minha parte infantil, livre, onipotente, senhora de si, que faz o que quer e bem entende: a criança mimada.

Depois do meu primeiro e fracassado namoro cheguei a conclusão que o Junior representa o oposto: o Dr Jekyll. É ele que confere todas as expectativas familiares, o meu ascendente leonino que diz: não vai ser gauche na vida, vá brilhar. Uma criança mimada ainda colada nas expectativas dos pais. Mas nessa minha convencional dualidade Junior não é mocinho nem bandido: é o infantil dentro de todos nós.

Na letra O talvez esse cidadão, que mascara o comodismo do Odilon, vai ser explicado melhor.

ID, ou melhor dizendo, ISSO

ID ( ENTIDADE ): Um roteiro para um curta talvez. Um psicanalista. Davi. Judeu de formação, agnóstico por convicção. Freudiano por opção, talvez a única que julgou interessante durante a sua vida. Ok, por algum motivo ainda não bem explicado ele vai parar em um terreiro de macumba. Sei que parece óbvio esse jogo de religiões em nome de uma pseudobrasilidade. O Preto Velho conversa com ele. Ele se revolta e coloca todos os seus desejos. Ele acorda. Desmaiou no meio da aula. Do lado de fora um faxineiro diz para ele: "cavalo mal acostumado fica assim mesmo, mas depois o senhor se acostuma". Não está boa esta idéia, confesso, mas é uma ID(éia).

ID (OTA): Foi o Ogro a fazer essa analogia na sala de aula. Nos sentimos especiais: a religião diz que somos especiais pois somos filhos de Deus, o que um povo xpto é o povo eleito e por aí vai. A família (não todas) também nos diz isso. As obrigações sociais de se casar, formar, ter um trabalho que o dignifique e dê um status é para satisfazer esse desejo. No fundo somos todos idiotas diante dessas exigências do supereu. E se tiver um curto-circuito no meio de tamanha demanda, a receita: Prozac, Zoloft e Xanax. Terapia, não, obrigado. Ali percebemos o quanto somos IDotas, quando nos deparamos com as exigências do "isso", aquela instância psíquica definia por Freud em sua segunda tópica que revela os nossos desejos mais livres e, porque não, infantis. E o carregamos na vida adulta disfarçado, cheio de fantasias, mas não morto, ignorando a perenidade do ser. Essa é a maior idiotice nossa, talvez.

ID (IOMA): Ioma vem de outro planeta. Lá não há instituições, leis, regras, igrejas, ideologias, teorias ou qualquer coisa do tipo dizendo como as coisas devem ser feitas. Ioma não é humano. Ainda assim resolve visitar a Terra. E mesmo tendo a mente avançada e sabendo falar qualquer língua falada neste planeta, não entende absolutamente nada do que é dito. Ele não está preparado para contradições. Pensa que estamos errados, mas no fim conclui que ele também não se dera conta que existe uma coisa: a diferença. Todavia isso não o fez inocentar os humanos, os mesmos que dizer ter criado uma "droga do amor" quando dança individualmente E parte deles elege para chefe do mundo o príncipe da intolerância. Porque concorda com ele.

ISSO: Pronome demonstrativo. Sem flexão de gênero, número ou grau. Não importa se é homem ou mulher. Se são muitos ou se é só uma coisa. Se é realmente uma coisa, grande ou pequena. Só sabe-se que é usado para algo próximo do ser que fala, senão seria "aquilo" (que é como chamamos o sexo, querendo deixá-lo bem longe de nós) É isso. O indizível. O que ganha várias máscaras frente a nossa hipocrisia, na realidade a fragilidade do ser que se percebe mortal. O ser que para tentar escapar d(isso) inventa regras duríssimas, seja em religiões ou ideologias sem Deus. Mas este mesmo ser , quando sabe usar em seu (id)eal cria a grande obra artísica, a música, a poesia- sem compromisso com a verdade, disse Platão- a pintura, a arquitetura, o cinema, o teatro. E muitas vezes estes retratam a nossa (id)otice e a nossa (id) entidade. Creio que Ioma não viu ISSO.

Isso tudo foi um momento em que o Sr Rodrigues resolveu gastar um pouco do seu psicanalistês.

GHormônios


GH, hormônio do crecimento. Somatrotopina. Na realidade ele não é o hormônio que faz crescermos mas é algo que precipita a produção de outro hormônio que faz isso. Seria a testosterona? O livro de fisiologia do Sr Rodrigues não está disponível no momento.

Quando se fala em hormônio, fala-se em sexualidade. A sexualidade do jovem com os hormônios em ebulição com tesão nos corpos da revista moldados por GH obtido em vidrinhos e que servem para "turbinar" os músculos. Eles estão na pauta nessa locura que é a obsessão pelo corpo.

Sexualidade, Identidade e Hormônios: a salvação do machismo classe média leitor de Veja. O cara justifica trair a mulher, enfiar a porrada nela e em outros caras por culpa da testosterona. E o idiota cita a revista para justificar tal ato. O sr Rodrigues ri.

O poder patriarcal machista ganha status de "ciência": o homem trai porque seus hormônios assim o impelem e geneticamente ele tem que espalhar seus genes, já que ele tem milhões de espermatozóides. As mulheres, por favor, não podem trair, pois elas só tem um óvulo pra presentear o seu "macho". Já descobriram o gene da burrice?

Qual o hormônio que ainda nos torna tão intolerantes? Qual o hormônio do cinismo?

Se antes a religião justificava o a maneira expúria que lidamos com o poder na sociedade, hoje a pseudo-ciência faz esse papel. Os médicos marketeiros substituem sacerdotes e haja GH pra "purificar" o corpo. Bye bye água benta, pois tu és coisa do passado!

Foda-se


Foda-se o bom comportamento, a palavra não dita, a falta de iniciativa. A decisão não tomada. Foda-se quem me esqueceu, quem me isolou. Foda-se o medo que sinto em ir a certos lugares. Foda-se a imagem no espelho, o medo de desagradar quem me criou. Foda-se toda essa covardia e o pensamento antes de dormir gerando sonhos desagradáveis, com pessoas detestáveis. Foda-se todo fantasma que me assombra e desprotege o meu sono.

Foda-se a politicagem e o fundamentalismo evangélico. Foda-se o cinismo católico e a incompreensão semita. Fodam-se a moda hinduísta e a mania de ler cabala por esporte. Foda-se a imitação de tradições, a viagem de artista pra São Tiago e um livro de merda publicado sobre essa experiência. Foda-se o descaso do poder para quem necessita. Foda-se o poder opressor que nasce do descaso desse outro poder. Foda-se quem não gosta de política. Foda-se quem fala mal de todos os políticos e votam nos mesmos canalhas de dois em dois anos para ter assunto e continuar a falar mal deles. Foda-se o comentarista dono da verdade, cheio de sarcasmo e informações pífias. Foda-se a puxação de saco do coroinha na hora da missa. Foda-se a freira dona de escola que babava quem ela julgava rico. Foda-se também a freira, amiga dela, de cara feia e sempre em retiro, sem falar com ninguém. Foda-se o padre com medo da televisão, das imagens de traição e desagregação da família. Foda-se as músicas estúpidas na hora da missa, estragando a sua beleza. Foda-se as massas carismáticas, forçadas, interesseiras agitando suas carteiras de trabalho ao ar, achando que Deus é patrão e empresário. Foda-se meus parentes crentes que enchem o saco por causa do altar no meu quarto. Foda-se aqueles que acham que alguém inteligente não pode ter religião. Foda-se quem não respeita os crentes, descrentes, agnósticos e os ateus.

Foda-se toda forma de preconceito, inclusive todos aqueles que tenho e sei. Foda-se a homofobia. Foda-se o cara que se julga macho falando mal de viado. Foda-se o que bate em viado. Foda-se a mãe que educa o filho para ser esse pústula e o pai ausente que alimenta isso. Foda-se o racismo. Foda-se a menina que foi ao Caribe e só viu, indignada, preto. Foda-se quem olhou para minha pele e achou que a freira fez caridade e me tornou bolsita. Foda-se a menina que me vê com meu homem e me acha mais sensível por causa disso. Foda-se o comentário daquela que odeia Paraíba. Foda-se o preconceito de quem sofre preconceito. Foda-se a mulata coroa de cabelo vermelho de má vontade com outros mulatos e negros nas repartições públicas. Foda-se a jornalista paulista que sempre pergunta ao cantor nordestino se ele passou fome, pergunta que ela não faria a um conterrâneo seu.

Foda-se quem se droga pra achar que é superior aos outros e tem a mente aberta por causa disso. Foda-se o maconheiro namorado daquela menina que a humilhou porque a irmã dela era lésbica. Foda-se a menina que não respondeu à altura. Foda-se os bêbados a encher o saco. Foda-se o vício. Foda-se a neurose. Foda-se aquele que diante de um problema prefere encher o saco dos outros e não se tratar.

Foda-se quem fala mal da novela das oito. Da televisão. Foda-se o discurso panfletário sobre alienação. Foda-se a garota militante de all star que gosta da favela porque lá vende o seu fumo, mas se seu filho namorar uma menina dali será a primeira a deserdá-lo. Foda-se quem olha pobre como ser exótico e dá risada tratando-o como criança. Foda-se as bandas com mais pode do que música. Foda-se a celebridade instantânea. Foda-se a atriz-e-modelo com o staff de 10 profissionais porque não tem talento. Foda-se quem não gosta de carnaval. Foda-se quem odeia o samba. Foda-se quem só assiste o cinema blockbuster americano e nada mais. Foda-se a horda de adolescentes no cinema. Foda-se o namorado que só assiste a comédia romântica sem graça com a namorada pra fazer a sua vontade, mas deseja ver um filme de ação. Foda-se a mulher na TV enrolada com um parangolé e achando aquele troço bonito. Foda-se o cara com ar blasé no filme de arte. Foda-se a patricinha débil mental e seu parceiro sem notocorda.

Foda-se o desprezo. O descaso. A falta de amor. Foda-se ir á festa para fazer uma social e não conhecer ninguém. Foda-se a roda de violão com as mesmas músicas chatas de sempre. Foda-se a vergonha em ser olhado na festa. Foda-se o cara polêmico a esmo.

Foda-se a trepada por compromisso. As horas e dias contados. Foda-se o longo período de dias sem transar mesmo namorando. Foda-se o pau brocha. Foda-se o cara que não deu. Foda-se aquele que beijava mal a minha boca, quando beijava. Foda-se aquele com quem trepei muito bem e hoje tem raiva de mim. Foda-se o estrangeiro de pau pequeno preocupado com o próprio orgasmo. Foda-se se a menina que namorei saber que eu gosto de homem. Foda-se o contador de vantagens que diz comer todos e todas e morre de vergonha se alguém descobri que ele sentiu prazer em seu próprio cu.

Foda-se o bom filme que deixei de assistir. O meu remorso por isso. O mesmo serve para o show o qualquer outro evento cultural. Foda-se a psicanálise que não ajuda e fica fechada em si mesma sem ajudar ninguém. Foda-se a minha neurose não tratada. Foda-se minha ansiedade. Foda-se a analista filha da puta que me forçava a escutar a voz do Brasil toda enquanto eu esperava feito um babaca na sala de espera a infeliz com seu raptor de odores e nariz de bruxa. Foda-se este que escreve por não tê-la mandado se foder. Foda-se a falta de uma casa bonita. Foda-se a roupa que se repete. Foda-se a falta de grana.

... e tem todas outras coisas que queria mandar se foder, mas foda-se , estou com preguiça.

Foda-se a mim que esqueceu que a foda (boa ou ruim) é sinal de vida e que na minha utopia, as coisas anteriores simplesmente não existiriam. Estariam todas elas mortas.

E, do (m) eu ofício: escrever


Estudar

e esforçar
e encher encéfalo em entes:

escadas em espirais

en
feitando

en
feitiçando

(embaraço
e espanto)

Enfim,
entendendo:
esse é (m)eu escrever!

D


Dãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

"A loucura faz parte de nossas vidas. O surto é só para aqueles que têm coragem ou aqueles covardes que escolhem esse caminho para dizerem o que deveriam ter dito há muito tempo.

...comigo não é diferente. Dãaaaaaaaaaaaaaaaa! Não vou me eximir de ser um Déeeeeeeeebil mental... em especial quando quero me levar a sério demais. O que estou a esconder?"

Curvas


Os deuses se reuniram para construir uma nova terra. E um deles para contrariar a determinação de sempre, aquela sempre quadrada e obtusa decidiu: a minha construirei com curvas. E leu seu manifesto aos demais presentes na reunião:

"Assim será a terra de São Sebastião. Quero ondas que se converterão em ressacas. Quero sexo, curvas de pênis, concavidade, vagina, bunda. Ânus, curvo e não reto como hão de dizer. E mais, os corpos se converterão em curvas, ainda que obtidas a comprimidos, bisturis e injeções. E para os malogrados desta terra, a curva da obesidade. E tudo isso há de ser celebrado em uma grande orgia de 4 dias, uma vez por ano.

Quero curvas para salientar a paisagem, desenhar os morros e suas ladeiras infindáveis. Curvas que desenham as balas que cortarão o céu curvo da terra e rasgarão a paisagem sem retas da minha cidade a retirar a vida de seus cidadãos, estejam eles engradados em jaulas com dispositivos eletrônicos ou não.

Curvas tão gigantescas como as da arena em que a bola, a curva sólida, rolará. Curvas para as marcações e nas cabeças rachadas de torcedores envolvidos em brigas. Curvas nas pontas dos cassetetes da polícia a rachar o corpo curvo de seus cidadãos, mas não para aqueles nos quais o dinheiro segue em uma linha reta (e por fora). Será a falsa proteção dos que insistirem nesse caos com tanto dinheiro.

Quero curvas por todos os lados, no paraíso e no inferno. Na subida do Corcovado ou do Complexo do Alemão. Isso pouco me importa. O que importa é o meu gosto e danem-se os desgostos que hão de vir em meio a tão sublime beleza.

Assim seja..."

Foi nesse instante que Madame Zoraide -- esse era um nome artístico, que fique bem claro -- acordou do seu sonho com os deuses e desolada foi para janela ao contemplar a paisagem curva. E uma lágrima de tristeza correu sobre as curvas de seu rosto ao perceber que o caos que vira, diferentemente do seu sonho, não era, de fato, obra de um deus caprichoso, belicoso e cheio de vontades

A-B-A


A ABAfante Boneca. Truque da travesti que quer ser a top nos classificados em um jornal vagabundo. Poderia anunciar em jornal chique, mas o dinheiro que ela ganha vai todo pra caderneta de poupança: tem família que mora muito longe. Quer também fazer uma operação. Transgenitalidade, foi o nome esquisito que ela viu outro dia no mesmo jornal que lê.

A ABAfante vê o anúncio de ABsorverntes com ABAs ma televisão. Pensa no fato de que nunca irá sangrar mensalmente. Se isso é bom ou ruim, ela não sabe. A única mulher com quem teve mais intimidade para conversar essas coisas nasceu sem os ovários. Mas adotou crianças, hoje adultas que vivem na ABA dessa pobre mulher.

O Sr Rodrigues pensa no ABsurdo que criou com as duas primeiras letras do alfabeto. Por ser neurótico, da letra B volta pro A, como todos aqueles que dizem estar avançando e permanecem na mesma. Melhor ABAfar o caso, já que está se falando de uma doença, e com o agravante desta pertencer à alma do infeliz escritor