Tuesday, January 04, 2011

W

Ele era o vigésimo terceiro anjo. Muitos julgaram que aquele, o de asas negras, seria o último, segundo a lógica do alfabeto com vinte e três letras. O que acontece é que a administração admitia as palavras estrangeiras e não levou em consideração o acordo de 1943. W seria a letra deste anjo.

O que acontece é que W tinha um desejo enorme de se tornar humano. Alimentou esse desejo por tempos, mas nunca dissera nada. Até que um dia decidiu partir no rumo que bem entendeu até que achou o lugar certo onde deveria ficar.

O lugar era um grande campo de casas de madeira, todas muito parecidas. Foi ali que ele se apaixonou e decidiu, em todas as coisas simples, tolas e comuns se estabelecer.

O que deve ser lembrado é que diante do pedido para perder a condição de anjo, foi dito a W exatamente essas palavras: ele se tornaria simples, tolo e comum. Perderia os privilégios que a sua condição ainda te dava. Ele não hesitou, decidiu mergulhar de cabeça e ir em frente com o seu plano.

Aceitas as condições ele teria uma outra tarefa: precisava escolher uma alma e tirá-la daquela terra onde ele queria ficar. Só que em princípio ele não sabia disso.

Passeando pela tal cidade, W, o vigésimo terceiro encontra o poeta a falar coisas bonitas e idealizadas. Era de uma beleza comovente, forte que destoava do que havia de comum em meio àquelas casas de madeira tão iguais assim como as pessoas que estavam ali. Decidiu se encantar com aquelas palavras, até que se deu conta de um sentimento muito humano: a dor.

Nesse momento, ali, na praça da cidade, diante da presença de todos e em meio àquela comoção apareceu-lhe a ordem que dizia que era o momento de se tornar humano e escolher a alma que deveria sair do mundo para que ele pudesse ocupar o seu lugar.

Pensou em todas as pessoas, mas todas elas eram úteis: os operários, os comerciários, as dona de lojas e boutiques, os agricultores. Tirá-los dali seria um prejuízo e tanto à ordem estabelecida naquela cidade. Ele longe de qualquer coisa não queria se tornar um morador indesejado naquele local por escolher a alma de alguém tão importante para aquela vida tão agradável.

Diante do impasse decidiu pela única alma que realmente não faria diferença ali. E ele conseguiu, diante do aplauso de todos da cidade e ao que parece ele já pode desfrutar de sua forma humana.

O poeta- depois de ouvir as desculpas da população que dizia ter carinho para as suas palavras, mas que ele era completamente inútil ali- fez a sua partida do mundo. Antes passou por um grande abismo, onde ele poderia agora jogar o novo mortal para desfrutar a sua finitude. No entanto o poeta, ao invés de seguir aos céus, decidiu ele mesmo cair no abismo e conhecer os infernos. Fez isso porque enquanto escrevia as suas belas palavras, criou uma fantasia tão grande que ele ainda não tinha se dado conta do que era o amor.